sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

www.umportodos.org

ÁGUA MINERAL
A Um Por Todos, dando continuidade à ajuda internacional ao Haiti, lançou mais uma campanha solidária em meio aos estudantes uberlandenses: DOE UM LITRO DE ÁGUA MINERAL! No Haiti, encontrar água potável tem se tornado uma tarefa cada vez mais difícil, de acordo as agências internacionais de notícias. Podemos fazer algo para ajudar, não é verdade? Nossa idéia, mais uma vez, é muito simples: se cada estudante em Uberlândia doar um litro de água, podemos reunir milhares de garrafas de um litro e enviá-las ao Rio de Janeiro, de onde seguirão ao Haiti por intermédio da Ong Viva Rio :-)
Se você estuda ou trabalha em alguma escola e quer nos ajudar a ampliar essa campanha, entre em contato conosco: (34)30870992.

Solidariedade. De quem tem pra quem precisa :-)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Uma idéia simples e revolucionária - Milú Villela

A Dra. Zilda Arns, que perdeu a vida no trágico terremoto no Haiti, nos deixou a valiosa lição de que, no campo social, as soluções simples são as que dão melhores resultados. A Pastoral da Criança, fundada por ela em 1983, se converteu num exemplo de tecnologia social justamente porque não enveredou por caminhos desnecessariamente complexos. Apoiada numa rede de voluntárias, a pastoral conseguiu derrubar a mortalidade e a desnutrição infantil no país adotando medidas singelas, como a difusão do soro caseiro para combate à diarreia e à desidratação. Como dizia a dra. Zilda, "tudo o que a pastoral faz é simples". Foi assim que nasceu a ideia de criar misturas nutricionais com sobras de alimentos antes rejeitadas pelas comunidades pobres. Nas mãos das voluntárias da pastoral, cascas de frutas e legumes se transformaram em misturas capazes de levar saúde e reduzir drasticamente a desnutrição de milhares de crianças em todo o país. Ela também nos deixou outra lição igualmente simples e fundamental: a informação e a conscientização das famílias, especialmente das mulheres, é fator decisivo para a criação de um novo ambiente de cidadania nas comunidades carentes. As voluntárias da pastoral se mobilizam para atender as crianças. Sua ação se dá com as mães e gestantes que recebem informações sobre higiene, cuidados com pré-natal e as crianças e sobre os direitos dos pequenos num país onde as garantias legais muitas vezes teimam em não sair do papel. Com esse suporte, as mães atendidas recuperam a autoestima e conseguem enfrentar melhor os desafios da maternidade. Mas nada disso teria o efeito espetacular que hoje se conhece se não houvesse a dimensão comunitária que a pastoral soube imprimir em sua atuação. As mais de 260 mil voluntárias da entidade vão a campo com genuíno interesse em dar apoio às famílias das classes menos favorecidas. Essas guerreiras são da própria comunidade em que atuam. Conhecem os problemas que estão ao seu redor e têm a legitimidade necessária para passar adiante o conhecimento acumulado. Juntas, elas formam uma rede de proteção e apoio que não resulta apenas nas condições nutricionais das crianças e na condução adequada da gestação. O impacto do trabalho da pastoral pode ser sentido também na redução da violência doméstica e no melhor planejamento familiar. Esse trabalho em rede talvez seja o melhor exemplo de voluntariado de que se tem notícia no país. As mulheres aprendem umas com as outras, recebem capacitação da pastoral e angariam novas parceiras pelo caminho. Foi essa bem construída rede de colaboração que permitiu à pastoral se transformar numa referência não só no Brasil, onde atende mais de 1,8 milhão de crianças e 95 mil gestantes em mais de 42 mil comunidades de 4.066 municípios. A expertise da pastoral chegou a países da América Latina e da África graças ao vigor da dra. Zilda na difusão de seu modelo em regiões pobres do mundo. Ela não estava no Haiti por acaso. No momento em que boa parte das famílias brasileiras goza de férias de início de ano, Zilda Arns embarcou para o Haiti para levar a mensagem da Pastoral da Criança ao país mais pobre das Américas. É emblemático que ela tenha perdido a vida nesse desastre. A Dra. Zilda não era uma mulher de gabinete. Ela ia a campo e viveu intensamente o papel de missionária que sonhou para si aos 15 anos de idade. Sua ida ao Haiti, um país devastado pela guerra civil e pelos conflitos sociais, só ressalta o compromisso que tinha com a pastoral e a melhoria de vida das famílias pobres. A perda de uma figura tão brilhante em situação tão trágica nos impele a buscar lições que possam gerar novos frutos. E não são poucas as boas ideias deixadas por essa médica pediatra e sanitarista que revolucionou a questão da saúde infantil no Brasil. Que a simplicidade e a eficácia defendidas por ela continuem a prosperar entre nós. E que o trabalho voluntário das mulheres da pastoral prossiga, sirva de exemplo e ganhe cada vez mais relevância no Brasil e em outros países. É o que esperam as crianças que dependem da generosidade alheia para vencer os desafios da existência e todo o conjunto daqueles que lutam por uma sociedade mais justa.

MILÚ VILLELA é membro fundador e coordenadora da Comissão de Articulação do movimento Todos pela Educação, além de presidente do Faça Parte, do Centro de Voluntariado de São Paulo, do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e do Instituto Itaú Cultural.

(Texto extraído do jornal Folha de São Paulo, edição de 22/01/2010)

sábado, 26 de dezembro de 2009

Movimento voluntário!

Por que contribuir com uma causa social?
Voluntariado não tem nada a ver com obrigação, com coisa chata, triste, motivada por culpa. É uma experiência espontânea, alegre, prazerosa e gratificante. Ao mobilizar energias, recursos e competências em prol de ações de interesse coletivo, o voluntariado reforça a solidariedade social e contribui para a construção de uma sociedade mais justa e humana. “Hoje não existem movimentos específicos, mas trabalhos que dão belos resultados, como na AACD, que conta com mais de mil voluntários. No início, os médicos de lá não entendiam a ação deles, que hoje são vistos como fundamentais para tudo no local”, diz Maria Lúcia Meirelles Reis, diretora do Centro de Voluntariado de São Paulo, o primeiro fundado no País.

Acreditar é ajudar!
As principais ações voluntárias hoje são nas áreas de saúde, educação, cultura, esportes, assistência social (creches e moradores de rua), cultura e defesa do direito dos cidadãos. Atualmente, também segundo o Censo de
2005, o Brasil conta com 53% de voluntários homens e 47% mulheres. Essa e outras pesquisas realizadas sobre o tema apontaram que mais de 60% dos brasileiros entrevistados disseram possuir desejo de trabalhar como voluntários. Se você é uma dessas pessoas, comece já, pois o trabalho voluntário é uma experiência aberta a todos. Não é só quem é “especialista” em alguma coisa que pode ser voluntário. Muito pelo contrário: todos podem contribuir, a partir da ideia de que o que cada um faz bem, pode fazer bem a alguém. O que conta é a motivação solidária, o desejo de ajudar, o prazer de se sentir útil. Cada um contribui na medida de suas possibilidades, com aquilo que sabe e quer fazer.

Voluntários da pátria
O voluntariado surgiu no Brasil no século XVI, quando organizações religiosas, na sua maioria católicas, introduziram esse tipo de atividade em instituições ligadas à saúde – as chamadas Santas Casas –, seguindo o
modelo trazido de Portugal. A primeira Santa Casa de Misericórdia foi implantada em 1543. Durante muitos anos, o trabalho era essencialmente feminino. Em 1930, o Estado passou a desenvolver políticas públicas
voltadas à assistência social, atuando nas instituições filantrópicas. De acordo com o livro Doações e trabalho voluntário no Brasil, das autoras Leila Landim e Maria Celi Scalon, a média de horas doadas por um voluntário
brasileiro é de 74 horas/ano, ou seja, 6 horas/mês. Destaca-se que 31% dos voluntários são jovens, na faixa de 18 a 34 anos de idade e, nos últimos 5 anos, o voluntariado jovem cresceu de 7% para 34%.

Por Bartira Betini
Fonte: Revista UMA/ed.108
Foto: Símbolo Imagens
Extraído de http://itodas.uol.com.br/Portal//final/materia.aspx?canal=298&cod=8189 em 26/12/2009 às 23:18

domingo, 6 de setembro de 2009

Mãos à obra - Emílio Odebrecht

Há algumas semanas, tratei aqui de um assunto que rendeu várias manifestações de leitores.
No texto, sugeri que profissionais maduros já aposentados, curtidos por anos de trabalho em empresas privadas, pusessem a experiência que acumularam a serviço da coletividade.
Dentre as mensagens que recebi, de profissionais e de empresários que já foram sucedidos em suas empresas, algumas pediam sugestões sobre como e o que fazer.
Há vários modos. Colaborar com a administração da cidade ou mesmo do bairro onde se reside é um deles. Penso em urbanistas aposentados, contribuindo para que tantos espaços vazios que vemos por aí, entregues ao abandono pelos municípios, sejam transformados em áreas de convivência e embelezamento local – coisas que, havendo criatividade, sempre se consegue fazer com pouco dinheiro.
Sei de executivos que estão dedicando tempo a treinar diretores e professores em técnicas de gestão – de pessoas, orçamentos, compras etc... – aplicáveis a escolas públicas.
O Movimento Brasil Competitivo, uma organização privada, criada por importantes empresários brasileiros, tem dado contribuição relevante para a qualificação de administradores em ministérios, governos estaduais e prefeituras.
Ao longo de uma vida profissional, em uma ou mais empresas, aprende-se muito sobre o valor do trabalho – e também sobre como fazer o trabalho criar valor, ou seja: de quais maneiras pode-se mudar para melhor o mundo que nos cerca através da ação produtiva coordenada e metódica. Parece banal, mas esta percepção anda escassa em muitos ambientes.
Há também muito para ser feito para além da esfera estatal.
Empresários aposentados podem, com pouco capital e boa disposição, criar pequenas oficinas profissionalizantes para formar jovens para a vida, pelo trabalho.
É o que meu pai, Norberto Odebrecht, já perto dos 90 anos, vem fazendo em 14 municípios do Baixo Sul da Bahia, engajado nos programas da Fundação Odebrecht.
Sua dedicação atual é a educação de moças e rapazes daquela região, de modo que encontrem ali as oportunidades que precisam para desenvolver os talentos que têm.
Eu, desde que deixei minhas funções executivas, tenho me dedicado, entre outras coisas, a participar de um projeto na área de pesquisa científica, destinado à produção de drogas contra o câncer.
Enfim, os exemplos existem e naquele artigo quis provocar quem chegou à terceira idade para um despertar de consciência: enquanto o ócio improdutivo deprime, uma boa causa nos mantém vivos e revigora.

(Texto extraído do Jornal Folha de São Paulo, edição de 06/09/2009)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Dados alarmantes

Um bilhão de pessoas. A projeção apresentada ontem pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) rompe mais do que uma barreira simbólica: mais de 15% da população mundial sofrerão de desnutrição neste ano. Segundo o relatório, o grande vilão da vez é a crise financeira mundial e seus impactos nos índices de crescimento da economia global.

Ainda, segundo a FAO, os alimentos tiveram um aumento considerável desde 2006 (24%) devido à elevação da demanda nos países desenvolvidos. E, para alguns analistas, a entrada no cenário mundial de um bilhão de consumidores chineses teria sido a gota d’água. Mas, há contradições: como um sexto da população pode estar desnutrida – número superior ao encontrado em 2008 – enquanto a produção de alimentos vem aumentando?

A questão parece ser mais complexa e de ações de curto, médio e longo prazos. As raízes do aumento da fome no mundo estão muito mais atreladas à falta de renda das famílias do que a uma suposta escassez de alimentos. A concentração de praticamente todos os subnutridos em países em desenvolvimento, conforme informa o relatório, aponta para a necessidade de implementação de políticas estruturais de erradicação da miséria.

Mas, emergencialmente, os organismos internacionais multilaterais precisam assumir a gravidade da situação, traçar ações coordenadas e intensificar a ajuda aos países em desenvolvimento, seja com recursos e alimentos, seja com investimento/financiamento em tecnologia para produção de alimentos.

Nós podemos ajudar! Há 16 anos o nosso saudoso Betinho afirmava: “Quem tem fome tem pressa.” Após uma luta incansável junto com outras instituições da sociedade civil, pudemos observar a implementação de políticas públicas emergenciais de combate à fome no Brasil e os resultados na diminuição da desigualdade de renda, apesar do alto grau de desigualdade social ainda existente. Hoje discutimos quais são as modificações estruturais necessárias para cortar o efeito entre as gerações do ciclo da miséria. Políticas sociais universais ancoradas na defesa da educação fundamental de qualidade é o que defendemos.

Ao lado da crise econômica mundial temos, ainda, os efeitos das mudanças climáticas globais (quem teve a oportunidade de ver, no último dia 05 de junho, o lançamento simultâneo em mais de 50 países do filme Home – Nosso planeta, nossa casa pode perceber os impactos do aquecimento climático nas diversas regiões do planeta). Estas mudanças vêm gerando, entre outras conseqüências, um aumento das áreas desertificadas – em 2006, segundo a ONU, 41% do território mundial era formada por áreas secas, como o semi-árido nordestino. Estas regiões abrigam 2 bilhões de habitantes!

A agenda está colocada: políticas emergenciais de distribuição de alimentos sob coordenação dos órgãos multilaterais, financiamento em tecnologia agrícola e um novo padrão de desenvolvimento que agregue sustentabilidade, distribuição de renda e direito universal à alimentação para todo cidadão.

Rio, 20/06/2009

*João Guerreiro é economista e integra a coordenação da Ação da Cidadania

Texto retirado de www.acaodacidadania.com.br em 27/07/2009.

sábado, 15 de novembro de 2008

Fundações comunitárias - transformando caridade em investimento social

As Fundações Comunitárias são instituições filantrópicas autônomas, sem fins lucrativos, sustentadas por doações, cujo objetivo a longo prazo é constituir fundos financeiros permanentes que serão aplicados em favor de projetos sociais voltados para as comunidades onde as fundações se inserem. A consultora da Fundação Ford, Rebecca Reichmann, esteve no Brasil para falar sobre sua experiência em uma das cerca de 500 fundações comunitárias norte-americanas - em San Diego, Califórnia - como uma alternativa para a obtenção e gestão de fundos para investimentos em projetos sociais.
Segundo Rebecca, a finalidade da fundação comunitária não é simplesmente financiar projetos: "sua real finalidade é construir um fundo permanente, pode-se falar em constituir um patrimônio da comunidade na qual a fundação está inserida".
Um dos pontos fundamentais para o sucesso da implementação deste tipo de instituição, é que a fundação comunitária tenha a identidade de criadora e mantenedora de um patrimônio financeiro da comunidade. Os recursos deste fundo permanente serão captados entre os diversos atores da própria sociedade e aplicados por profissionais como qualquer outro investimento financeiro. O rendimento deste fundo é que será destinado a financiar projetos. "Então, a princípio, quando o fundo é novo, não é possível desenvolver projetos, é preciso esperar que ele cresça e dê rendimentos. Isso deve ser muito bem explicado para a comunidade - que a idéia é de criar um patrimônio a longo prazo, e não apenas desenvolver projetos", afirma a consultora.
Rebecca explica que as fundações comunitárias nos EUA, frente à Receita Federal, são chamadas de "caridade pública", e, juridicamente, têm as mesmas características de uma ong. Isso é relevante para as políticas referentes ao uso dos fundos dessas instituições. Naquele país, uma fundação privada, frente à Receita Federal, tem a obrigação de aplicar pelo menos 5% de seus ativos em projetos sociais, enquanto uma fundação comunitária não está sujeita a essa exigência, mas, por outro lado, tem a obrigação de procurar sempre novas contribuições. A cada ano, pelo menos 15% dos recursos das fundações comunitárias devem vir de fontes variadas e novas. Para manter seu status, estas instituições devem procurar novas doações. Isso é importante porque as obriga a manter a transparência absoluta em suas atividades e um diálogo constante com a sociedade, com os doadores atuais e com os doadores em potencial.
Mesmo com um nome de caridade pública, as fundações comunitárias não têm nenhum vínculo com o Estado. Não existe participação do governo em nenhuma instância. Normalmente as fundações comunitárias são criadas por grupos que querem viabilizar ações filantrópicas de famílias, indivíduos ou empresas que não têm capacidade ou interesse em criar uma fundação privada. É uma forma de incluir em projetos sociais pessoas que não teriam dinheiro suficiente para criar uma fundação privada, que requer muito dinheiro e envolve muita burocracia, além de estar sujeita a uma regulamentação bastante rígida frente à Receita Federal. Assim, uma alternativa é contribuir para um fundo permanente dentro de uma fundação comunitária. Este fundo pode levar o nome de seu mantenedor, ou o de sua família, ou o nome de um tema, como meio-ambiente, por exemplo. O indivíduo que o criou, com os recursos de que dispunha, pode acompanhar passo-a-passo as aplicações que estão sendo feitas com o seu dinheiro e o destino dado a estes recursos.
De acordo com Rebecca, os doadores potenciais, nos Estados Unidos, geralmente são famílias de razoável poder aquisitivo ou empresas, que costumam ter valores bem conservadores. Assim, as fundações comunitárias necessariamente devem manter boas relações e uma boa imagem frente à sociedade porque vão estar sendo sempre avaliadas, e disso dependem seus recursos no futuro. A fundação comunitária também deve tentar manter uma posição de convocadora dos vários setores da comunidade, chamando os grupos mais excluídos para debate com as elites e com os setores público e privado. É um espaço neutro para convocar os vários segmentos da sociedade. Esse também é um papel importante, realizado por estas instituições.
O grande desafio para a implementação deste modelo de fundação no Brasil diz respeito a aspectos legais, tributários. Nos Estados Unidos, o governo, através da Receita Federal, criou incentivos fiscais para a filantropia, tanto de empresas quanto de indivíduos. Então, o incentivo para a população americana participar de uma fundação comunitária, ou outra fundação qualquer, é material, além da boa-vontade ou da generosidade.
Este tipo de estímulo à filantropia tem trazido resultados bastante positivos. "Nos EUA há mais de 500 fundações comunitárias, neste momento contabilizando U$ 27 bilhões em ativos - de onde se conclui que é um movimento significativo no país. Na Fundação de San Diego, nossos ativos no ano passado eram da ordem de U$ 490 milhões e foram destinados ao longo do ano U$ 35 milhões para financiamentos de projetos. Esta fundação tem 15 anos de existência, é considerada relativamente nova, mas está inserida em uma comunidade onde grupos e indivíduos contribuem de forma bem consistente, o que contribuiu para o crescimento rápido do nosso fundo. Há casos de fundações que contam com um fundo de U$ 1 milhão, e outras que têm fundos de U$ 1 bilhão em ativos, como a de Nova Yorque, Chicago e Cleveland" conta a consultora.
Do total do montante financeiro de cada fundo, entre 7 e 10% dos ativos são normalmente destinados para os projetos, a cada ano. Isso não é exigido por lei, é um percentual determinado pela prática, porque a forma com que as doações são feitas pelas fundações comunitárias também é diferente da forma de doação de fundações tradicionais. Numa fundação comunitária há duas formas de financiar projetos: uma, equivalente ao modelo das fundações tradicionais, onde os consultores e profissionais vão até as comunidades, reconhecem as demandas, analisam os projetos e aconselham o andamento (ou não) dos mesmos. Entretanto, a grande maioria dos financiamentos de projetos desenvolvidos por fundações comunitárias é recomendada pelo próprio contribuinte. Rebecca dá um exemplo: "se eu tenho 1000 dólares para contribuir com uma fundação comunitária, eu escrevo o cheque e crio o Fundo Rebecca Reichmann. É como uma conta dentro da fundação, só que este dinheiro não é meu, é da instituição. Mas eu tenho o direito de fazer uma sugestão para que a fundação contribua para um projeto escolhido por mim, com o qual eu simpatizo. A fundação não é obrigada a acatar minha sugestão, mas normalmente os conselhos diretores aprovam e providenciam o encaminhamento dos recursos para aquele projeto que eu escolhi, se ele for viável e conveniente".
As fundações comunitárias são mais uma alternativa para a obtenção de recursos que viabilizem projetos que têm como objetivo diminuir os níveis de pobreza e exclusão social. "Entretanto, para que este modelo funcione satisfatoriamente no Brasil, é primordial que se faça um trabalho paralelo, organizando forças em vários segmentos sociais para fazer um lobby junto ao Poder Público, objetivando a efetiva implementação da Reforma Fiscal" finaliza Rebecca.

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Extraído de http://www.rits.org.br/rets/re_novidade.cfm em 15/11/2008.

sábado, 1 de novembro de 2008

Identificação, conceito e justiça

O zelo dos reformadores protestantes em retomar o Cristianismo em sua essência e criar uma identidade cristã fora do Catolicismo atropelou tradições cristãs que remetem historicamente à herança abraâmica. Com a privatização da Igreja no século 18, o Cristianismo moderno se distanciou ainda mais dessas heranças. O cristão se tornou um indivíduo afastado do meio, inerte em atividades elevadas ao estatuto de sagradas. No final dos anos 1960, os frades dominicanos, envolvidos na luta contra a ditadura militar no Brasil, foram expressão da mudança de rumos da organização popular na sociedade brasileira. O Brasil vivia dois conflitos: a economia em mãos estrangeiras e o Estado em poder de autocratas militares. Partindo de uma nova maneira de ler a Bíblia e da preocupação com o que significaria ser cristão naquela conjuntura, abandonando a antiga dualidade entre fé e vida, a ordem dos dominicanos se tornou o embrião dos movimentos populares. Durante o golpe militar, esses movimentos foram vistos como laboratórios de idéias comunistas e seus participantes perseguidos pelo regime autoritário; no entanto, a população encontrou entre eles a sua voz. “Quando dou pão aos pobres, chamam-me de santo, quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista”, diz Dom Helder Câmara. Se com a supressão dos direitos constitucionais, perseguição política, prisão e tortura aos opositores, censura aos meios de comunicação, as pessoas imergiram em um universo despolitizado, a ordem dos frades fazia o caminho inverso. Mobilizaram-se para promover novos espaços públicos, amparar presos políticos e convergir grupos que, por ideologia, se posicionavam em resistência às injustiças contra o povo. A desigualdade social, que ao longo da história é denunciada por diversos grupos, é costumeiramente fruto de mudanças nas ênfases econômicas e no modo de produção. Em Israel, por volta do século 8 a.C., a economia da nação, a exemplo do modo fenício, investiu no incremento do comércio em detrimento da agricultura; o que resultou, como afirma Toynbee, em “uma alteração quase revolucionária na distribuição da riqueza, com desvantagem para a maioria pobre da população.” Nesse período reinava sobre Israel Jeroboão II. Seu reinado foi marcado por um período de expansão territorial e prosperidade. Mesmo com o cisma ocorrido anteriormente, na morte de Salomão –que dividiu a nação em dois reinos– Israel vivenciou no século 8 a.C. um período de estabilidade política e prosperidade econômica com a tomada da Síria pela Assíria, o que possibilitou a expansão territorial por meio da retomada das terras ocupadas pelo reino sírio. Todavia, o bem-estar econômico e político ocultava uma decomposição social. O contraste entre ricos e pobres denunciava injustiças e degradação moral. Esses fatos são evidenciados nos escritos do profeta Amós, presentes na composição bíblica. Amós, contemporâneo de Jeroboão II, relata a sociedade da qual faz parte. A fluência e a construção de seu texto revela um homem em contato direto com as questões do seu tempo em matéria de sociedade, política e economia. A palavra profeta chega a nós através do vocábulo hebraico nabi, ou “aquele que proclama”; um conceito diferente do utilizado hoje, que relaciona a palavra à predição. Dessa forma, o trabalho de Amós era o de anunciar a Israel o castigo que viria como conseqüência de suas práticas de injustiça. Fazendo-se uma voz contra injustiça, Amós denunciava as práticas sociais que iam contra o conceito de justiça presente na religião e na cultura hebraica. A essência da ação de Amós se concentra na sua compreensão da idéia de Deus. Para ele, todo entendimento de Deus estava baseado no pressuposto de justiça. A moralidade e a justiça eram centrais em Deus. Dessa forma, ele apresenta em seu discurso a implantação da justiça como única via de remissão, colocando o homem como agente direto de transformação e responsável pelo destino da sociedade. Amós posiciona o homem como um agente social. O caráter social da atuação dos profetas em Israel está relacionado à influência que eles representavam no campo das idéias. Sua maior responsabilidade não estava em estruturar um plano de reforma social propriamente dito, ou uma mobilização social em termos revolucionários, mas em produzir conceitos a serem lançados sobre a sociedade, que modificariam tanto o pensamento como a prática social. O filósofo José Luís Sicre, em sua obra Profetismo em Israel, aponta o caráter social da atuação dos profetas: “Um dos aspectos mais célebres e importantes da mensagem profética é constituído pela sua denúncia dos problemas sociais e pelo seu esforço em prol de uma sociedade mais justa.” Na modernidade, com o apogeu do iluminismo, as sociedades ocidentais se empenharam em dissociar a religião das questões sociais humanas; retomando o conceito grego que diferenciava os espectros humanos entre mythos e logos, em que o mythos englobaria exclusivamente as questões intemporais, religiosas e de transcendência. Desde então, a religião tem sido compreendida como responsável apenas pela espiritualidade do homem, não comunicando em nada com os enfrentamentos da sociedade em geral. Parecendo abusiva e fora de jurisdição qualquer crítica social ou atuação relevante, as sodalidades hoje enfrentam o dilema de responder a questões sociais em um mundo que não as compreende. Na prática, as sodalidades religiosas buscam responder a três necessidades: identificação, conceito e justiça social. Sociologicamente, representam a capacidade humana de construir grupos com um propósito específico. Em Roma, por volta do século 7 a.C., o termo sodalitas englobava dois agrupamentos sociais: um político, outro religioso. As sodalidades políticas reuniam bens e habilidades de pessoas abastadas para se promover, enquanto as religiosas convergiam recursos e talentos para se ocupar das questões que envolviam a complexidade humana, seja em aspectos de moral, transcendência ou vivência. Com a decadência do Império Romano, o conceito de sodalidade política se esvaneceu, permanecendo exclusivamente o de caráter religioso. Hoje, as associações que ousam se afastar do conceito iluminista sobre a prática religiosa para convergir habilidade, conhecimento e know-how estão fadadas a serem desacreditadas em sua finalidade. Na pós-modernidade esta prática parece ser legítima apenas às instituições do mercado.
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Texto extraído de http://3cnetwork.org/pagina.asp?id=102 em 01/11/2008.